sábado, 25 de abril de 2009

Direito de Resposta: Projeto Afroatitude

No dia 05/04/2009 o blog CiênciaBrasil publicou um post intitulado: "Expulso do Centro de Convivência na UnB. Por que?, relatando a fala de Francisco Johny, referenciado no blog como participante do movimento negro do Amazonas, que alega ter participado de uma reunião do CCN no dia 31 de março. Em seu relato ele afirma ter sido inicialmente bem tratado pela secretária que o havia convidado para a reunião (reunião esta que em seu início tratara de questões internas do CCN). Francisco afirma em seu texto que quando inquirido sobre sua posição sobre as cotas raciais e respondendo ser contrário a elas, teria recebido "iradas críticas" a seu posicionamento. Ele afirma ainda que a pessoa que o recebera inicialmente o chama "à parte", o informa que a reunião era composta por cotistas e que ela havia solicitado que ele se retirasse da reunião, solicitação à qual ele haveria atendido. Ele termina seu relato questionando as finalidades do CCN.
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O post é colocado em um blog onde seu idealizador se posiciona publicamente contra as cotas raciais. E ele acha um absurdo o que teria acontecido ao Francisco. E nós, do projeto Afroatitude, que somos a favor das cotas raciais, também acharíamos um absurdo se isso tivesse, de fato, acontecido ao Francisco. Seríamos, inclusive, um dos primeiros grupos da UnB a propor que o CCN fosse processado por um gesto desta natureza.
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Entretanto, o que Francisco relata não poderia ter acontecido. Os fatos abaixo desmontam a versão de Francisco:
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1. O Centro de Convivência Negra da UnB não faz reuniões as terças e quintas-feiras. Aliás, ele não tem reuniões regulares com estudantes. Vários são os grupos que se reúnem no espaço físico do CCN - sem, no entanto, pertencerem ao CCN. Quem se reúne nas terças, quintas e sextas-feiras é o Projeto Afroatitude. Este primeiro ponto já é problemático. Se alguém vai fazer um protesto público sobre uma expulsão (ou convite a se retirar de uma reunião), deve, ao menos, saber de que reunião participou. Isso é, no mínimo, um gesto de descuido.
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2. Francisco afirma em seu relato que nesta reunião (que era do Afroatitude e não do CCN), se discutiram questões internas do CCN. Isto não aconteceu, pois não há relação formal entre o CCN e o Projeto Afroatitude, a não ser a cessão do espaço para a sala de atendimento e da sala de reuniões. Não haveria motivos para que o Afroatitude discutisse questões internas do CCN, uma vez que são atividades diferentes da Universidade de Brasília. E um suposto expectador de uma reunião notaria isso em pouquíssimo tempo de escuta. Se isso fosse verdade, seria interessante que ele pudesse contar com detalhes que "questões internas" eram essas que foram discutidas na reunião. Como o Afroatitude tem uma lista de frequência e essas reuniões são compostas por mais de uma dezena de pessoas, seria fácil notar inconsistências em relatos.
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3. Segundo Francisco, ele teria sido informado pela "secretária", que lhe atendera inicialmente, que a reunião era composta de alunos cotistas. Como o Afroatitude (que era o responsável pela famigerada reunião) não é composto apenas por cotistas, ou a “secretária” estaria muito mal informada (o que não é o caso, pois a tal "secretária" é ninguém menos do que a vice-coordenadora do Afroatitude) ou então a informação do Francisco não procede. Ninguém jamais foi expulso de nenhuma reunião do Afroatitude por não concordar com existência das costas raciais. Se isso acontecesse o projeto já teria sofrido represálias por parte da própria universidade que assume o sistema de reserva de vagas, mantém também um discurso pluralista em relação a esse sistema. Sempre houve espaço para quem quer que seja se manifestar em contrário às cotas sem ser punido por isso.
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Esses três pontos mostram a inconsistência no relato de Francisco. E lastimamos que este terreno de ofensas tenha se instaurado nos comentários à postagem à qual respondemos, onde o CCN foi acusado de racista entre outras coisas. Seria interessante que alguém que queira criticar uma idéia com a qual não concorda apresente fatos reais e não invente uma situação inexistente.
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E é também lastimável que o professor Marcelo Hermes – que simplesmente endossa o relato de Francisco e o posta – não tenha o mínimo de informação sobre o funcionamento das estruturas da universidade que se relacionam com as cotas raciais contra as quais ele se posiciona, pois se ele conhecesse tanto a rotina do CCN, da ADAC, do Afroatitude e de outras estruturas que atendem a cotistas na UnB, jamais teria postado o relato do modo como ele foi postado (e vejam que a expressão "expulsa um negro" do CCN só foi retirada em 12/14 após a reclamação de alguém que questionava um comentário posterior de Francisco alegando que não tinha dito que "havia sido expulso" da reunião).
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Se queremos uma universidade democrática, devemos cuidar para que as condições desta democracia se sustentem. Informação e honestidade são duas destas condições.
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Enquanto aguardamos que o CCN se pronuncie, o Afroatitude, que é quem teria "por acidente" sido o cenário desta confusão, traz sua versão da história.
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Projeto Afroatitude - UnB

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