segunda-feira, 21 de setembro de 2009

TRAMPOLINANDO A LA CRISTOVAM


TRAMPOLINAGENS CRISTOVISTAS

Prof. Dr. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto
Departamento de Projeto, Expressão e Representação em Arquitetura e Urbanismo

O título deste texto se refere diretamente ao modo hábil de usar o cargo de Magnífico Reitor da Universidade de Brasília para propelir a carreira de ex-reitores pelo mundo da Administração Pública. A princípio, esse trampolim não deve ser considerado anti-ético, e o exemplo de Cristovam Buarque, que de Professor universitário passa a Reitor da Universidade de Brasília (1985-1989), a e daí a Governador do Distrito Federal (1994-1998) e daí a Senador da República (2003-2010), é notável.
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Tão notável que, afirmo, TODOS os Reitores que o sucederam - com a possível exceção de Antônio Ibanez Ruiz (1989-1993) - tentaram "ser Cristovam", no sentido de adquirirem estatura política respeitável e visível, notória e de qualidade, depois da Reitoria. Na verdade, as realizações de Cristovam ocorreram com tal desenvoltura e clareza que parece a todos, especialmente os que alcançaram o cargo de Reitor depois Dele, ser "fácil" alçar vôos solo Além da Reitoria. Não é, e cada Reitor parece dar lições acerca disso.
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Não tentem imitar o Cristovam!
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Querer ser-Cristovam não é poder ser-Cristovam, apesar de o exemplo cristovanista ter passado a representar mais que um paradigma para a projeção dada pelo cargo de Reitor da UnB: criou um tipo de coesão interna que se mantém quase intacto, por mais que as composições de poder se alterem. Cada Magnífico tornou-se Magneto de um poder futuro, um chefe que pode ir Além e que merece toda a lealdade que puder comprar. As expectativas acerca do Magnífico, a concentração do poder que exerce, o puxa-saquismo e os desvarios de ambição - e esse tipo de ingenuidade imperdoável no desempenho da função pública - são diretas conseqüências do Desejo-de-Ser-Cristovam, e não conseguir. Afirmo que Cristovam, o fenômeno, entortou a cabeça de muita gente boa nesta Universidade de Brasília.
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Não tentem imitar o Cristovam!
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No caso do atual Reitor, a trampolinagem cristovanista, ou o uso do cargo de Reitor da UnB como ponto de partida para elevados alvos públicos, é evidente. Essa é a minha explicação para a conduta do Reitor José Geraldo de Sousa Júnior no caso da indevida retirada da URP de nossos salários, que está a anunciar. Precisamos de uma boa explicação acerca da motivação do professor José Geraldo quanto a esse indevido corte salarial. Tenho uma: a tentativa de trampolinar cristovistamente.

O REITOR JOSÉ GERALDO ESTÁ A TRAMPOLINAR

Qual seria a motivação do Reitor José Geraldo para descumprir uma DECISÃO JUDICIAL do Supremo Tribunal Federal, que protege - ou deveria proteger, mas os juristas estão aí para gerar insegurança e desequilíbrio - a parcela da URP em nossos salários?
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Qual seria a motivação do Reitor José Geraldo para cumprir algo que NEM É DETERMINAÇÃO JUDICIAL, segundo nossa assessoria jurídica (ADUnB), mas apenas um ato de fiscalização do Tribunal de Contas da União, que enseja uma série de outras medidas protetoras do nosso direito à parcela da URP?
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Minha conclusão é de que, nesse episódio de CASSAÇÃO ADMINISTRATIVA DA URP o Reitor tem intenções políticas, relacionadas com sua vida além-Reitoria. Esse Reitor, a mim, não engana. Ele quer ser Ministro de um "tribunalzão" desses aí - SUPREMO? TRIBUNAL DE CONTAS? E já começou a sua carreira de Ministro. Alguém deveria lembrar a ele do exemplo de Cristovam: cada mandato, cumpriu condignamente. Entre cada mandato, passaram-se pelo menos 5 anos, de reflexão, de prestação de contas. Há certa sabedoria no trampolinato cristovanista, versão original.

LIÇÕES DE CRISTOVAM

Do exame da extraordinária biografia de Cristovam Buarque salta uma série de inusitadas leis, deduzidas da sua evolução pessoal, política e pública: em especial, não há "troca de papéis" ou confusão notável sobre o que deve fazer como (a) Professor, (b) Reitor, (c) Governador e (d) Senador.
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Exemplarmente, Cristovam fez uma coisa de cada vez: não foi SENADOR, nem GOVERNADOR, nem REITOR, antes de sê-lo. Portanto, uma lei elementar na conduta da trampolinagem é: "Não tente ser Ministro do TCU antes de sê-lo". Essa lei-da-trampolinagem permite outras formulações, como: "Se é Reitor, entenda exatamente como funciona a sua Universidade, e a aprimore, não a atrase, não a detone".
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Trabalhe como Reitor, aja como Reitor: Defenda e Promova sua Instituição, seus Professores, Funcionários, Estudantes. Use seu demonstrado talento como a mola e a prancha do trampolim: nunca use o lombo dos seus subordinados! Outra lição de Cristovam, que me parece passível de dedução: "não arrebente suas relações com os professores e os funcionários, assalariados, exatamente com REDUÇÕES SALARIAIS!".
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Corolário: somente um administrador inexperiente e desavisado, meio tonto, consegue piorar os salários por conta de sua inabilidade administrativa; "negocie com calma, ordenadamente, sabiamente, todos os aspectos das relações trabalhistas no âmbito da Universidade!"; "não aja como um imperito, um precipitado, um tonto: na dúvida, PERGUNTE AOS UNIVERSITÁRIOS!!!"

LIÇÕES DE MULHOLLAND

Assim como há lições a aprender com Cristovam, sobram lições a aprender com Timothy Mulholland, o Reitor politicamente destituído pelo movimento estudantil. Entre elas: "Converse, não seja arrogante" (Timothy não conversou e perdeu a noção de realidade, a meu ver). "Não minta, exija a verdade e viva de acordo com ela" (o puxa-saquismo ao Timothy alcançou índices sem precedentes na Universidade de Brasília; penso que o ex-Reitor acreditou em muitas mentiras, agradabilíssimas de ouvir). "No exercício da Reitoria, não ceda à sua vocação de Decorador" (sem comentários); "não seja o que ainda não é, antes de ser", se é que me entendem.
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A mesma pressão da fiscalização do TCU, que ignora as decisões do Supremo Tribunal Federal, foi exercida sobre Mulholland, que podia gostar de Decoração, de lugares bacanas para as funções públicas, mas não era bobo de confrontar professores e funcionários com uma medida administrativa tola, desnecessária, contornável - e notavelmente prejudicial, sem fundamento legal, sem oportunidade: o corte da URP.
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Nem o Timothy, que teve a Reitoria ocupada, cometeu esse erro. Se Mulholand deu algum mau passo, não foi esse.

LIÇÕES DE JOSÉ GERALDO: O REITOR JURISTA QUE SE PRECIPITOU JURIDICAMENTE

O Reitor José Geraldo de Sousa Júnior sabe perfeitamente da dimensão política de seu cargo, mas demonstra não ter uma avaliação sóbria acerca da correlação de forças que pode manter sua respeitabilidade - ou, nos termos do governo federal atual, sua "governabilidade". Ele criou a mais espantosa das unanimidades entre professores e funcionários: todos concordamos que o corte da URP surge como medida inábil e precipitada, sobre assunto da sua pretensa área de competência. Todos concordamos que a última pessoa a "amarelar" diante da fiscalização do TCU, a desconsiderar a mais poderosa das decisões judiciais, do próprio Supremo Tribunal Federal, seria um Reitor jurista.
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O professor José Geraldo age como se tivesse planos para Além-Reitoria, como se quisesse ser Ministro do TCU ou de coisa que o valha. O que podemos fazer para que esses planos se realizem, o mais rápido possível, e sem o sacrifício de nossos salários?

Resposta: REITOR JOSÉ GERALDO PARA O SUPREMO (OU TCU, ETC.), JÁ!

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