sexta-feira, 13 de junho de 2008

Artigo: Maestro Jorge Antunes, Prof da UnB

AUTOPROPAGANDA DA REITORIA PRÓ-TEMPORE
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Jorge Antunes
(Professor Titular, Departamento de Música)
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Espero que não saia candidato a reitor, nenhum dos membros da atual administração interina da UnB. Se algum dos atuais decanos sair candidato, ficará evidenciado o prévio uso da máquina administrativa para propaganda eleitoral.
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A Secretaria de Comunicação da UnB (Secom), hoje, é dirigida por um dos candidatos que foram derrotados em 2005, nas eleições que deram a vitória ao Prof. Timothy. Recentemente essa nova Secom começou a promover uma bem orquestrada propaganda dos atos banais da reitoria e dos decanos. É uma propaganda que destoa da esperada atitude humilde e ética que deveria ser adotada pelos professores incumbidos temporariamente da transição.
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O site da UnB tem publicado manchetes que chegam às raias do risível. Uma das pérolas: “DAF restaura normalidade administrativa”. Na matéria com esse título lemos: “Quando o professor assumiu o Decanato de Administração (DAF), a estrutura administrativa da Universidade de Brasília estava paralizada há 20 dias – fruto (sic) da ocupação dos estudantes na (sic) Reitoria.”
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O texto revela uma crítica velada à ocupação. Ou seja, segundo o decano a desestruturação administrativa da UnB foi culpa dos estudantes. Em nenhum momento as matérias apontam descalabros da administração anterior. As notícias tentam passar a impressão de que a administração Timothy andava estruturalmente bem, mas que a ocupação levou tudo à paralização.
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Em outra matéria, sobre o Cead, lemos: “Alguns projetos do Centro de Educação à Distância (CEAD) estavam parados por causa da ocupação da Reitoria e da intervenção na Finatec”. E o decano declara a seguir: “então, nos antecipamos e liberamos recursos ...”. Mais uma vez nos deparamos com a crítica velada ao movimento estudantil. A reitoria pro-tempore, pela voz do decano, afirma que tudo parou por causa da intervenção na Finatec e da ocupação dos estudantes. Tudo soa como se o decanato de finanças se vangloriasse de estar resolvendo problemas provocados pelos estudantes e pelo Ministério Público.
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A todo momento o site da UnB, seguindo a nova política editorial da Secom, publica manchetes de ridícula propaganda descabida: “Hospital Universitário é prioridade para Reitoria”; Decanato de Administração (DAF) também quer solucionar o problema de terceirizados”; “Comunidade acadêmica elogia gestão”; “DEG reativa canal com colegiados”; “Poder decisório volta aos colegiados”; “Rédea mais curta para fundações de apoio”.
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Enfim, lemos a todo momento notícias que tentam, em desespero patético de divulgação do óbvio, mostrar atos administrativos obrigatórios, corriqueiros e banais, travestidos de realizações revolucionárias, audaciosas e surpreendentes. A Secom coloca seus repórteres em campo, para que algumas figurinhas carimbadas opinem sobre o cumprimento de meras obrigações do administrador provisório. O DAF “quer solucionar o problema dos terceirizados”, como se antes ninguém tivesse desejado fazer o mesmo. A comunidade é informada de que o “poder decisório volta aos colegiados”, como se os colegiados fossem paritários e democráticos. A reitoria pro-tempore informa com estardalhaço que agora temos “rédea mais curta para fundações de apoio”. Ou seja, reafirma sua vontade de manter essas monstruosidades dentro do câmpus: as fundações continuariam a cavalgar em lamas milionárias, mas com rédeas encurtadas.
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Tudo soa muito estranho. Propagandas ridículas de ações triviais denotam que, no poder provisório, se instalou um grupo em estado de tentação de glória, picado pela mosca azul. Isso é muito perigoso. Para tranqüilidade da comunidade, seria necessário, para assegurarmos o não uso eleiçoeiro da máquina administrativa, que a desincompatibilização acontecesse, no mínimo, quatro meses antes das eleições para reitor.

Um comentário:

Otávio Martins disse...

Prezado Maestro Jorge Antunes

Por casualidade, ontem, assisti ao documentário mostrando toda a sua trajetória pessoal e musical. Acho que na TV Sesc. Ótimo.
Hoje cheguei, também por casualidade, a esse artigo.
Bom que o senhor tome uma postura de inconformidade com o uso da máquina do poder para desqualificar movimentos de protesto e, ainda, com o objetivo de simular "boas intenções" para a tomada de tal poder.
Gostaria de ter o seu e-mail para, em breve enviar o roteiro de um curta metragem, o qual estou acabando e, para ele, gostaria de usar algum trecho de arranjo ou composição sua.
Um grande abraço, Otávio Martins.