quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Carta aberta à comunidade da UnB

Lemos ontem, totalmente estarrecidos [no site da UnB], que voltamos a ter problemas com o pagamento da URP. A notícia por si só já causa indignação, mas esse sentimento é potencializado quando se percebe que a Reitoria nem teve a delicadeza de avisar diretamente aos funcionários afetados. Nem mesmo um email para alertar sobre o grave problema salarial. Ficamos imaginando quando seríamos devidamente avisados. Junto com o contra-cheque?
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A obscura nota que consta na página da UnB informa que um seleto grupo de 550 funcionários não vai receber a URP em fevereiro, mas eles podem ficar tranqüilos que em março o valor retido será pago em dobro. Mas como se sentir compensado com a inconstância nos vencimentos? Nós ingressamos na UnB em junho de 2009, após seleção pública de dois concursos distintos. Na época fomos informados pelo SHR da Universidade que o valor do salário seria maior que aquele divulgado no edital. A diferença era devida à presença da URP. Mesmo considerando que o salário de um professor adjunto (com URP) seria bem menor do que o salário que recebíamos anteriormente na iniciativa privada aceitamos o emprego mais estável e, teoricamente, mais propício para o estabelecimento de nossos planos de longo prazo.
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Contudo, desde o ano passado estamos nos sentindo como nos tempos de consultorias privadas, uma das fases que enfrentamos no início de nossas carreiras profissionais. Como autônomos não tínhamos a segurança de que o dinheiro do próximo mês viria ou não. Mas éramos só nos dois, sem filhos. Por causa dessa condição aprendemos que é importante dispor de um pequeno fundo para cobrir as inconstâncias e eventualidades financeiras. Pois bem, hoje estamos na mesma situação do passado. Em um mês o salário é X+UPR, no outro é X, no próximo é X-URP e no seguinte é X+2URP.
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É perceptível que tal situação acaba com qualquer planejamento de orçamento familiar. Imaginem se nós disséssemos ao gerente do banco que financia o nosso apartamento que nesse mês não iremos pagar a prestação combinada, mas que ele pode ficar tranquilo, pois no próximo mês pagaremos duas prestações de uma vez só, mas evidentemente sem juros ou multa. Obviamente essa situação não será aceita pelo banco, pois o mínimo que se espera é que um cliente sério cumpra o compromisso que assumiu ao contrair um empréstimo.
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Tínhamos a ilusão de que essa mesma seriedade seria demonstrada pelos dirigentes da UnB, MPOG ou MEC. Doce ilusão. Alegar que problemas técnicos novamente impedem o pagamento da URP é uma falta de respeito à inteligência alheia, para dizer o mínimo. Essa desculpa já foi usada no final do ano passado e requentá-la é assumir que a administração pública não aprende com seus erros.
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Para nós, casal acadêmico e universitário com prole, a perda da URP representa uma ausência mensal de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais). Assim, de uma hora para outra, temos que nos virar com vencimentos menores e reduzir nossos gastos até que a situação se regularize. Mas parece que o pior está por vir.
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Consta também na nota divulgada na página da UnB que o MPOG ainda analisa o pagamento da URP após março, supostamente dependente de um parecer da assessoria jurídica daquele órgão. Embora singela na superfície, a informação trás embutida uma situação inconcebível e incrível: o assessor jurídico do MPOG manda mais que Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário Brasileiro! A Ministra Carmen Lúcia do STF ordenou que a UPR é imutável até que seja julgado o mérito da questão. Até lá, nem a UnB, nem o MEC ou o MPOG podem deixar de pagar a URP aos professores e funcionários da UnB. Ou seja, estes órgãos devem cumprir o que foi determinado, sem procrastinar, dar pretextos ou escusas.
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Contudo, na improvável e surreal hipótese de que a URP caia antes do derradeiro julgamento de seu mérito pelo STF, só nos restará uma única saída para não perder o pequeno padrão de vida conquistado: tentar uma transferência para uma universidade pública situada em alguma cidade menos cara que Brasília. Talvez outros professores recém-contratados já tenham imaginado fazer o mesmo. Dessa maneira, o MPOG vai conseguir criar em 2010 o DESUNI, um programa oposto ao REUNI.
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Professores recém-contratados da UnB

Um comentário:

Demerson Polli disse...

Olá!

Também sou docente recém contratado pela UnB, nós cheguamos à universidade na mesma época. Concordo em todos os aspectos com o comentário sobre a URP postado no blog. Esta indecisão é horrível... e gera um estresse desnecessário... penso ser muito melhor ter a decisão (favorável ou não) de uma vez, sem ficar este jogo de tira-põe...

Com relação à evasão de docentes da UnB... acredito que isto vai ocorrer com uma intensidade maior que todo mundo espera. Conversei com alguns colegas sobre este assunto e, em geral, todos admitiram que pretendem mudar para outras universidades caso a URP caia... e, admito, não sou exceção à regra. O custo de vida em Brasília é muito alto e, se é para viver sem URP, então a compensação é escolher um local com custo de vida menor.

Agora não sei quem ganha com esta história. A UnB vai perder muitos docentes (novos e, acredito, alguns antigos também)... nós docentes teremos que lidar com um orçamento reduzido, além do estresse da mudança de uma cidade para outra (acabei de chegar à Brasília... duas mudanças de grande porte em poucos anos, não é nada bom...) e o valor economizado pelo não pagamento da URP é insignificante se comparado com a arrecadação de impostos, pois somos apenas 2000 docentes (a União estaria economizando algo em torno de 2 a 4 milhões de reais mensais - considerando que o valor médio pago como URP é algo entre R$1000 e R$2000 por docente). Além disso, UnB/MPOG estão fazendo com o STJ, o mesmo que George W. Bush fez com a ONU... acabando com a reputação da instituição... ficou muito claro que a decisão do Supremo nada vale... e, mais uma vez, o nosso Judiciário fica desacreditado!!!

Infelizmente, este é nosso cenário atual... não sabemos o que vai acontecer depois (embora eu acredite cada vez mais que a URP vai cair)... e a universidade brasileira é novamente refém de um governo míope.

Prof. Demerson