sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O DEBATE (3) - Resposta do maestro Antunes

Caro Marcelo:
Na esquina de minha quadra, aqui no Lago Norte, todas as manhãs avistamos um senhor de cabelos grisalhos, sentado, olhar evasivo, esperando Godot.
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Ao lado dele vemos um cartaz, cheio de erros de ortografia, anunciando suas especialidades: bombeiro, eletricista, secador, pintura. Aparentemente ele faz tudo. É um generalista. Houve uma época, no Brasil, em que víamos generais por toda parte. Agora são os generalistas.
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Não sei das qualidades e da competência do dito senhor. Mas não ouso chamá-lo de picareta. Ele é um cidadão brasileiro, cheio de criatividade, e cheio de vontade de trabalhar. Ele, ao que parece, não teve acesso a uma educação de qualidade. Os eternos donos do poder, no Brasil, têm consciência de que "educação" é artigo perigosíssimo. Se todos tiverem acesso à educação de qualidade, logo logo os eternos donos do poder vão perder o poder.
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Os governos no Brasil, estes sim, têm sido picaretas. Precisamos urgentemente organizar uma rebeldia de baixo para cima, de modo a que o status quo ganhe mudanças radicais. A universidade não escapa dessa triste realidade.
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Precisamos que se promovam urgentemente concursos públicos, para preenchimento das vagas na educação superior. É preciso nos unirmos numa grande mobilização nacional, para que este governo, que faz tudo de modo a privilegiar a iniciativa privada, mude suas políticas pró-imperialistas, e pare de praticar crimes de lesa-pátria contra o povo e contra a educação nacional.
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É preciso que ele pare de privilegiar os banqueiros. Os juros pagos pelas dívidas externa e interna dariam para tirar a Universidade pública brasileira do buraco, transformando-a no grande modelo de templo criador e difusor de saber com que sonhamos.
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Na luta desesperada por sobrevivência, na luta desesperada pela vida digna, na luta desesperada pela realização de seus sonhos, está todo o povo brasileiro, inclusive os professores universitários.
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Abraços,
Jorge Antunes
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Chapa 74 - A UNB QUE NÓS QUEREMOS
Antunes e Baiana - para reitor e vice

Um comentário:

Marcus Paulo disse...

Fiquei um pouco assustado com o tom dessa resposta, principalmente pela falta de vontade em se indispor com os professores ruins, bem demonstrada no trecho "não ouso chamá-lo de picareta."
Dos professores que tive na unb, considero metade bons ou excelentes, e metade ruins ou péssimos. Ter aula com esses últimos foi uma grande perda de tempo. A picaretice, portanto, está longe de ser um problema menor...
Semestre após semestre, os professores ruins recebem avaliações baixas dos alunos, mas no final das contas isso não faz a menor diferença... continuam ministrando aulas ruins.
O professor picareta-mor da minha faculdade certa vez me disse, despreocupado, que "a avaliação não fazia a menor diferença".
A unb não está no buraco por causa do governo "imperialista" ou dos "juros altos", mas por uma razão muito simples e bem nítida: o ensino e a pesquisa (exceto em alguns nichos de excelência) não têm metas!!!!
Os professores não precisam trabalhar para cumprir metas, não são cobrados por sua presença, não são demitidos por insuficiência de desempenho, etc. Os bons professores o são apenas por questão de caráter e de responsabilidade. Os ruins sabem que podem continuar na mediocridade que nada lhes acontecerá.
Bem... este é o meu último semestre na faculdade. Acho que a unb não irá mudar, mas tomara que pelo menos não piore...